segunda-feira, 5 de abril de 2010

Eleições darão força a Morales

da Agência Estado

A Bolívia realiza eleições regionais. A disputa pode “converter o país no epicentro das transformações sociais”, na opinião do presidente Evo Morales. Já oposicionistas temem que a provável vitória dos governistas instaure um comando autoritário no país, com cada vez menos espaço para vozes divergentes. As declarações de Morales foram feitas em um evento na terça-feira em La Paz, segundo a estatal Agência Boliviana de Informação. Nos últimos dias, o presidente declarou ainda esperar que seu Movimento Ao Socialismo (MAS) vença em 90% das prefeituras. Estão também em jogo cargos de vereadores e ainda o comando dos nove departamentos (Estados) do país, com boas chances de o MAS obter também expressivo resultado nesta disputa, segundo pesquisas divulgadas na imprensa local.

“(A eleição) é a parte final de um processo de consolidação de um partido único”, afirma, em entrevista por telefone, o cientista político Eduardo Gamarra, especialista em América Latina da Universidade Internacional da Flórida. Gamarra lembra ainda que, entre os governadores, as pesquisas indicam que a oposição deve vencer apenas em Santa Cruz e Beni. Caso isso se confirme, o grupo de Morales teria sete dos nove governadores do país.

Na opinião de outro analista, o sociólogo Fernando Mayorga, da Universidad Mayor de San Simón (UMSS), a importância dessa eleição não está tanto no fato de o MAS ganhar espaço. Mayorga diz, por e-mail, que na disputa deve “se aprofundar a descentralização política, como parte da implementação do regime de autonomias da nova Constituição (aprovada em referendo no ano passado)”.

Os partidos que fazem oposição ao governo Morales não conseguem ganhar espaço no país. Mayorga cita como problemas desses grupos políticos a falta de renovação e a “maneira dividida” como atuou, durante o governo Morales. De um lado, estava a oposição que controlava o Senado, e do outro a maioria dos 9 governadores, que faziam oposição regional. “A carência de um projeto comum impediu que se formasse uma oposição unificada, com propostas alternativas”, sustenta Mayorga.

Gamarra também afirma que o principal problema para a oposição boliviana é a falta de organização. Além disso, algumas figuras oposicionistas se vincularam no passado com escândalos de corrupção, além de problemas de má gestão, aponta o especialista.

O cenário de ineficiência política foi importante para a ascensão de Morales, que chegou à presidência em 2006. O líder cocaleiro tem um discurso nacionalista, de distribuir a riqueza nacional mais igualmente, caminhando para o socialismo e corrigindo distorções históricas, entre elas as desigualdades sofridas pelos indígenas, em um país de maioria mestiça. Gamarra lembra ainda que, desde a posse de Morales, o mundo viveu uma forte valorização dos commodities, o que beneficiou a Bolívia.

Gamarra acredita que a política boliviana corre o risco de passar por um processo de “judicialização”. Na opinião dele, as forças governistas podem, nas áreas em que não vençam, buscar na Justiça ganhar espaço nas novas administrações.

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